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Tropeiros do Sertão Paulista

  • Foto do escritor: Alan Narcizo | O Autor
    Alan Narcizo | O Autor
  • 7 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura



Adentramos o território centro-oeste paulista antes do meio-dia e parecíamos estar presos dentro de uma bolha de calor. Se não fossem os trajes térmicos, estaríamos literalmente fritos antes de chegar ao território do antigo município de Lençóis Paulista. Em pleno 2102, avançávamos como carros a gasolina, pois tudo dependia de autorizações.

A tarefa não era muito complexa: resgatar documentos do subsolo da escola Esperança de Oliveira, localizada no centro urbano. Foram selecionados agentes experientes com mais de cem horas de exploração em territórios radioativos. Eu havia driblado uma burocracia infernal do DPAM (Departamento de Pesquisa e Arqueologia Municipal) para fazer parte da equipe. Minhas investigações históricas sobre meus antepassados apontaram para o município de Lençóis Paulista/SP. Por isso, eu desejava muito conhecer a cidade. Sorri quando nossa pequena nave finalmente pousou entre as ruínas da escola e de um posto de gasolina.

Observamos o cenário desolado de escombros que se estendiam por quilômetros, como um testemunho silencioso da fúria de uma força esmagadora. A grande porta de entrada da escola parecia prender-se ao que restou das paredes marcadas pelo belo estilo arquitetônico da época. Providos com trajes antirradiação, empurramos a porta que facilmente se abriu, revelando um ambiente que sussurrou memórias. Quadros caídos, computadores cobertos pela vegetação, cadernos e folhas cobrindo os corredores como se tivessem sido abandonados às pressas.

A cada sala de aula visitada, um nó se formava em minha garganta. Era como se eu pudesse ouvir os risos das crianças. Minha mente materializou a cena de uma professora escrevendo na lousa com uma grafia impecável, enquanto os alunos copiavam em pequenos cadernos. Recordei-me dos documentos do Conselho de Defesa do Patrimônio. A EMEF Esperança de Oliveira fora fundada em 1914 e compunha um projeto de onze escolas elaborado por Jose Van Humbeek. O nome da instituição homenageava o professor Esperança de Oliveira, dedicado docente que havia lecionado em Lençóis Paulista no começo do século XX.

Avançamos até encontrar a entrada para o piso inferior. O subsolo era mais úmido e foi difícil encontrar as caixas com documentos sobre os grupos escolares e registros de alunos. Preservar a história do interior paulista era um dever do DPAM. Após recolhermos tudo, deixamos a escola.

Decidimos fazer um tour aéreo pela pequena Lençóis Paulista. Eu tinha a impressão de ouvir meus antepassados. Eles pareciam contar sobre suas andanças pelas ruas lençoenses. Vimos o que restou da famosa Biblioteca Orígenes Lessa, bem como a Concha Acústica, onde acontecia a festa dedicada à padroeira. Sobrevoamos o centro comercial, mas grande parte estava submersa pelo rio que corta o município. Na viagem de volta, fiquei pensando: como seria andar pelas ruas de uma cidade que foi a Boca do Sertão e, posteriormente, a Capital Nacional do Livro? Grande honra para meus parentes e para mim.


Autor: Alan Narcizo - Texto selecionado para o Prêmio FILLP de Lençóis Paulista

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