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O pintor que dava vida aos pesadelos

  • Foto do escritor: Alan Narcizo | O Autor
    Alan Narcizo | O Autor
  • 3 de jan.
  • 4 min de leitura

Hoje começa uma série de postagens sobre minhas principais fontes de inspiração como escritor. Serão três textos onde vou aprensentar a vocês parte do meu processo criativo. Espero que gostem.



Zdzisław Beksiński
Zdzisław Beksiński


Escritor, você escreve a partir de onde? Acho que a resposta para essa questão é: escrevemos a partir de nós mesmos, daquilo que nos forma, da “matéria” que compõe cada átomo do nosso ser. (nossa que viagem…eu sei. kkk)

Falando sério, eu parto da ideia de que temos um imaginário - um arcabouço - onde nossas ideias, vivências e experiências ficam guardadas e, dali, são acessadas para conduzir nossas decisões/ações. Quando me disponho a escrever meus contos ou poemas, acesso esse “arsenal”. Dessa maneira, permito escapar um pouco do meu universo interior. Para mim, a escrita é a materialização dos espectros que vivem em nossa imaginação.

Partindo dessa ideia, apresento a vocês um pintor que é uma grande fonte de inspiração para mim. Não me refiro à sua vida ou sua atividade de pintor, mas a sua arte propriamente dita. Trata-se de Zdzisław Beksiński (1929 - 2005).


Esse texto será dividido da seguinte maneira: apresentação de uma minibiografia do autor, depois uma breve galeria expondo sua arte e, por fim, meu processo criativo



Minibiografia de Zdzisław Beksiński




Zdzisław Beksiński nasceu em 24 de fevereiro de 1929, em Sanok, Polônia. Ele estudou arquitetura, mas não se deu bem como arquiteto. Depois de formado, ele se dedicou a fazer esculturas. Beksiński foi um artista multifacetado, uma vez que suas atividades artísticas não se limitaram à pintura. Já na década de 1950, ele se entendia como artista plástico e se dedicava à pintura, escultura e fotografia. Ele chegou a tentar a via literária, mas não foi muito pra frente.

Na década de 1960 que começa a fase da sua produção que vai ficar mais conhecida. O seu chamado “período fantástico”. São essas imagens sombrias que hoje circulam pela internet. Talvez você já tenha se deparado com alguma delas.

Suas pinturas, geralmente perturbadoras, carregam um tom sombrio, tonalidades mais escuras, puxando para o vermelho, laranja e preto. É difícil definir as pinturas de Beksiński. Algumas são como um emaranhado de ossos e o que parecem ser teias de aranha, outras são lugares inóspitos povoado por monstros. O autor geralmente não intitulava suas pinturas o que as torna ainda mais “enigmáticas”. Não sei vocês, mas eu gostaria de tomar um café com Beksiński pra tentar entender um pouco daquele universo sombrio que ele deixava escapar da sua fabulosa imaginação.

Enfim, sua vida foi muito trágica, o que adiciona ainda mais camadas sombrias a sua obra. Em 1998, sua esposa faleceu. Um ano depois, na véspera de Natal, seu filho Tomasz Beksiński, cometeu suicídio por overdose. Em fevereiro de 2005, Zdzisław Beksiński, foi encontrado morto. Ele foi esfaqueado 17 vezes pelo filho adolescente do zelador do prédio para quem tinha negado dinheiro emprestado.

Beksiński foi um dos principais pintores poloneses da segunda metade do século XX e suas pinturas surrealistas e sobrenaturais se tornaram reconhecidas no meio artístico. Atualmente encontramos ecos da sua obra em diversos campos, como literatura, games, música e cinema, deixando um legado de inspiração que transcende as telas de pintura.


Galeria do autor:






A influência de Beksiński no meu processo criativo


Para quem já me acompanha aqui, sabe que escrevo Weird Fiction (traduzido ficaria algo como ficção estranha). Uma das características desse gênero literário é a indefinição, ou seja, é difícil definir o Weird porque suas temáticas transitam entre o horror, a ficção científica, o gótico. No entanto, seus elementos estão ligados à decadência, ao horror, aos monstros e criaturas sobrenaturais fora do convencional. Para explicar melhor: um vampiro é fácil de identificar, mas uma criatura como um Shoggoth (criada por H.P Lovecraft) é um emaranhado de carne, dentes, olhos. Ou seja, não é muito fácil de “entender”, ou de classificar. É Weird.




Há alguns anos, me deparei com as pinturas de Zdzisław Beksiński e elas me causaram grande impacto. Comecei a vasculhar sua obra: figuras esqueléticas atravessam cenários de desolação, edifícios fundem-se com uma vegetação asquerosa, crânios choram vísceras, paisagens apocalípticas e extraterrenas ganham forma. Tudo isso era muito weird, muito bizarro, muito estranho, fantástico e misterioso.

Às vezes, quando quero começar um conto ou poema novo, me pego observando alguma pintura de Beksiński para que, de alguma forma, aquela atmosfera seja uma fonte de inspiração. É assim que essa arte se junta ao meu processo criativo.

Então, depois de “consumir” essas obras, tenho certeza que elas “enriqueceram” meu imaginário e, hoje, meu baú de ideias está cheio das imagens perturbadoras de Beksiński.

Em Beksiński, os seres humanos parecem estar com medo ou desesperados. Para mim, também transmitem uma “vibe” de insignificância cósmica, o que se conectada com o terror cósmico de H.P Lovecraft. Beksiński disse certa vez que pintou para “fotografar” os sonhos, muito embora, suas pinturas se parecem com verdadeiros pesadelos vivos.

Enfim, se Lovecraft e Zdzisław Beksiński fossem conterrâneos, talvez pudessem ser bons amigos e, dessa maneira, enriqueceriam a obra um do outro com mais tentáculos, seres inomináveis e paisagens perturbadoras e surreais.


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